Na década passada, era relativamente fácil prever o futuro da inteligência artificial (I.A.): a tecnologia chegaria ao cotidiano de pessoas e empresas, e isso de fato aconteceu. Imaginar a próxima década é bem mais complicado. É certo que ela estará em todo lugar, mas como? Esta é a pergunta de US$ 1 milhão — aliás, de vários bilhões. Para respondê-la, Irad Ben-Gal fundou o projeto Digital Living 2030, uma parceria entre a Universidade de Tel-Aviv (TAU), em Israel, e a Universidade Stanford, no Vale do Silício, os dois principais hubs de tecnologia do mundo.

1- Granularidade 

“A I.A. está evoluindo a ponto de enxergar grupos cada vez menores. O exemplo claro são os humanos. Há muito tempo é possível prever quantas cadeiras serão vendidas em um determinado mercado, mas é muito mais difícil saber a chance de uma determinada pessoa comprar uma delas. Isso requer conhecimento sobre o indivíduo — seus hábitos, preocupações, localização, o seu contexto. 

2- A uberização do mundo

“Os carros ficavam ociosos cerca de 80% do tempo, até que a Uber — ou o Airbnb, no mercado imobiliário — aumentou o aproveitamento ao conseguir ligar, com agilidade, oferta e demanda, graças à inteligência artificial. Esses dois exemplos são apenas o começo. Existe potencial em áreas como educação, comércio e alimentação. Hoje, 50% da comida do planeta vai para o lixo — quando se trata de alimento fresco, o percentual é ainda maior.

3- Dilemas morais

“Até hoje, o ‘dilema do trenzinho’ [em que somos convidados a escolher entre deixar um trem seguir seu caminho e atropelar cinco pessoas, ou desviar para outro trilho, onde matará apenas uma] foi um exercício meramente teórico. Na prática, ninguém julga a decisão de um maquinista — apenas se ele tinha treinamento, se estava sóbrio, se cumpria as normas de segurança. O panorama muda conforme robôs assumem a condução de máquinas como trens, carros e aviões. 

4- Causalidade 

“Os humanos ainda são muito melhores que a inteligência artificial ao identificar relações de causa e efeito. Veremos muitos esforços de cientistas para dotar as máquinas de autoconsciência e abstração, para lidar com questões abertas. São habilidades muito humanas, estranhas aos computadores.”

5- A língua dos homens

“A inteligência artificial já é bem melhor que os humanos em resolver tarefas definidas ou que envolvem enorme quantidade de dados. Mas não é boa para trabalhar em equipe: o computador diz que um produto é ideal para certo consumidor, mas não explica os motivos. É uma caixa-preta: a pergunta entra por um lado e a resposta sai pelo outro, sem justificativas. Apresentar argumentos será útil para participar de discussões com humanos em torno de problemas que não têm resposta objetiva.

6- Saúde e bem-estar

“Veremos um grande aumento em inteligência artificial voltada ao bem-estar. A tecnologia está sendo usada em gerenciar o trânsito das cidades, grandes estoques ou para conhecer os padrões de consumo de cada cliente. Essas habilidades serão empregadas para gerenciar a vida pessoal. Programas vão responder e-mails, chamadas telefônicas, gerenciar o congestionamento de informações. Vão monitorar o seu organismo e reagir — não apenas para manter a saúde, mas também para proporcionar satisfação. Conheço pelo menos duas startups que monitoram todas as informações e os sensores do seu smartphone. Ao identificar padrões de atividade ou mudanças no tom da voz, essas empresas recomendam descansar um pouco ou procurar atendimento médico. 

7- Flash organizations

“A inteligência artificial tende a acabar com muitos empregos, mas isso não significa, necessariamente, que teremos mais desempregados. Os trabalhadores estão trocando empresas tradicionais, com estrutura física e equipe própria, por empresas virtuais — aquilo que a professora Melissa Valentine, de Stanford, chamou de flash organizations. A inteligência artificial favorece o surgimento de grupos de trabalho ad-hoc, criados em torno de um projeto. Dezenas ou centenas de freelancers desempenham uma tarefa específica — e o computador gerencia prazos, pagamentos e a integração das diferentes contribuições. O profissional faz apenas a sua especialidade, em várias empresas ao mesmo tempo.”

Esta matéria foi publicada originalmente
na edição de fevereiro, da Revista Época Negócios