Tecnologia

A internet não está ao alcance apenas das pessoas. Os objetos estão cada vez mais ligados em rede e com inteligência própria para realizar tarefas. Atualmente, a estimativa é que 8,4 bilhões de dispositivos estejam conectados e em uso. A automação residencial é a parte mais visível da tecnologia denominada Internet das Coisas (IoT, na sigla em inglês), que também é a base para as Cidades Inteligentes e deverá invadir outros setores da economia.

Mais da metade dos novos negócios irá incorporar algum elemento de Internet das Coisas até 2020, segundo a consultoria norte-americana Gartner. Aplicações desenvolvidas para a indústria e, em especial para o varejo, impulsionarão o uso de IoT. Hoje em dia, o segmento de consumo responde por 63% (5,2 bilhões de unidades) de dispositivos conectados.

“Várias localidades estão colocando em uso estas tecnologias e vencendo alguns preceitos internacionais. Temos Dubai, Londres, Cingapura, Tóquio, Barcelona com algumas ações já em funcionamento. Estamos atrás, mas temos condições de acompanhar o mercado porque temos empresas desenvolvendo tecnologia no parâmetro internacional. Podemos ser disruptivos criando e exportando tecnologias”, analisa Carlos Frees, líder do projeto de Cidades Inteligentes na Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI).

Controle pelo celular

Um exemplo brasileiro de sucesso é o projeto da IoT Company. A empresa desenvolveu uma solução que denominou de WiseHome. Trata-se de uma placa que é instalada nas tomadas das casas e automatiza a iluminação e os aparelhos com controle remoto, inclusive portões, que passam a ser comandados por um aplicativo de celular. 

A ideia para o projeto surgiu há um ano, quando os empreendedores Emerson BZ, Erick MacDonald Filzek e José Carlos Costa participaram do desafio brasileiro de IoT. Na própria competição, vencida por eles em 2017, receberam mentorias para consolidar a solução e abrir a empresa.

Com a placa instalada em casa, o consumidor pode estabelecer metas de gastos, que o sistema automaticamente gerencia os aparelhos. “A pessoa estabelece que a residência consuma um valor em reais por mês. O sistema faz a gestão de tudo que está conectado às placas Wisehome e vai dando sugestões. Por exemplo, para que se atinja a meta sugere aumentar dois graus no ar condicionado, ou desligá-lo por um período. O aplicativo vai dando instruções de como atingir a meta”, detalha Emerson BZ, sócio da startup.

A partir do conceito de automação residencial, os três sócios desenvolveram outro projeto: as placas instaladas nas tomadas medem o consumo de energia. Com estas informações, as distribuidoras elétricas podem dimensionar melhor suas compras e o fornecimento na rede. “Nós criamos este conceito que é uma análise do consumo de energia em tempo real. Com esses dados, a gente consegue captar uma informação extremamente estratégica para ajudar as companhias de energia a melhorarem a previsibilidade de demanda”, afirma Emerson BZ.

Com esta proposta, a IoT Company venceu a competição internacional de Internet das Coisas, realizada na Espanha em junho deste ano. “Parecia que a gente estava ganhando o Oscar, foi indescritível”, lembra Emerson, que se mostra orgulhoso pelo feito de vencer startups que já tinham recebido investimentos da comunidade europeia para desenvolver suas ideias. “Quando a gente fala em startup, em uma solução disruptiva, ela geralmente tem que oferecer um custo dez vezes menor para chamar a atenção das pessoas, para ser disruptiva. O fantástico é fazer algo incrível e barato”, comentou.

Cidades Inteligentes

Um estudo do McKinsey Global Institute estima que o impacto de IoT na economia global será de 4% a 11% do PIB do planeta em 2025 (entre 3,9 e 11,1 trilhões de dólares). Até 40% desse potencial deve ser capturado por economias emergentes. No caso do Brasil, a estimativa é de 50 a 200 bilhões de dólares de impacto econômico anual em 2025.

Uma ação que vai ajudar a concretizar esta estimativa será o ambiente de demonstrações para soluções de cidades inteligentes que está sendo montado pela ABDI em parceria com o Inmetro, no campus de Xerém (RJ).

Carlos Frees ressalta que o projeto será importante para que o país possa explorar melhor seu potencial de inovação. “A IoT é importante para as Cidades Inteligentes. Todos os sensores que vão trazer informações vão estar conectados de alguma forma. Sensores, sistemas, Big Data, computação nas nuvens, tudo isso compõe o arcabouço do conceito de Internet das Coisas. Nada mais são que tecnologias atuais e dispositivos, alguns deles com inteligência, autônomos e pelos quais temos uma responsabilidade técnica para fazer as coisas acontecerem”.

A Cidade Inteligente irá absorver soluções tecnológicas inovadoras para otimizar o atendimento às demandas públicas, como na área de segurança, por exemplo, com a instalação de Centros de Comando e Controle. “No nosso projeto são 162 soluções, empresas voltadas para Cidades Inteligentes. E a grande maioria delas é de IoT. Qual é o grande problema destas soluções? Primeiro temos que validar se ela funciona de fato. Se ela não coloca em risco a vida do cidadão, caso não funcione. Se o sensor de desastres falhar, ele mata o cidadão que está lá no morro e que teria que receber um aviso sonoro sobre o problema”, exemplifica Carlos Frees.

Uma das soluções que estará no ambiente de demonstração é a da IoT Company, que participou de workshop oferecido pela ABDI e pelo Inmetro no Rio de Janeiro, e pretende testar a inovação da startup em um edifício inteiro. “É um projeto de uma importância gigantesca para nós, porque vai ser uma vitrine para todos os prefeitos que forem visitar o local, para que eles vejam os benefícios para os municípios. Vai ser uma exposição muito relevante para a gente constituir uma nova empresa brasileira, que coloque o país no mapa da IoT”, destaca Emerson BZ.

Após um longo processo de discussão, o Plano Nacional de IoT foi finalizado em 2018. O documento elaborado por diversos atores, dentre eles a ABDI, será a referência para a definição de parâmetros técnicos no ambiente de demonstração para Cidades Inteligentes no campus do Inmetro.

Por Gabriel Fialho , da ABDI