Os términos de namoro e os encerramentos de ciclos são experiências inevitáveis da existência humana. Mesmo quando esperados, quase sempre chegam com um peso que a alma não sabe calcular. É como se o chão perdesse firmeza e os dias ficassem nublados, ainda que lá fora brilhe um sol radiante. O que se encerra não é apenas uma relação ou uma fase, mas também uma versão de nós mesmos que existia ali, naquele tempo, naquela entrega, naquela convivência.

Há feridas que não sangram aos olhos, mas gritam dentro. As feridas psicológicas ecoam como marcas deixadas em palavras que não foram bem ditas, em silêncios que falaram demais, em promessas que não se cumpriram. O coração, muitas vezes, vira morada de memórias que insistem em reviver cenas que já deveriam ter acabado. No entanto, a vida não é um roteiro previsível. Ela pulsa, muda, pede coragem para recomeçar.

Sentimento não é borracha. Não se apaga o que foi sentido. O amor vivido, a dor enfrentada, a saudade sentida – tudo isso nos compõe. Fingir que nada aconteceu é rejeitar parte da própria história. O fim de um ciclo não invalida sua importância; apenas convida para o próximo capítulo. E a verdade é que não há manual para recomeçar. Cada um encontra seu próprio ritmo, sua forma de curar, seu tempo de silêncio e seu jeito de florescer novamente.

A história precisa de novas páginas, sim. Mas a continuidade depende das mãos de quem escreve a narrativa. É preciso escolher não viver eternamente no prólogo do que passou. A caneta está em nossas mãos. Podemos continuar lamentando o ponto final, ou podemos iniciar uma nova frase, com mais sabedoria, mais leveza e mais verdade. Porque crescer é isso: encerrar ciclos com gratidão, mesmo quando doeu, e seguir com a consciência de que cada fim também é um convite ao recomeço.