A abolição sem reparação, a liberdade sem renda e a migração para cidades sem direito a casas foram algumas das muitas forças sociais e históricas que fizeram os negros subirem os morros e se tornarem maioria nas favelas cariocas.

“São os quilombos modernos”, classifica com assertividade o jornalista Rene Silva, fundador do jornal Voz das Comunidades, exemplo emblemático de como a comunicação popular e antirracista reivindica a liberdade que a Lei Áurea não garantiu à população negra, apesar de ter encerrado oficialmente a escravidão, em 13 de maio 1888. 

Comunicadores negros pautam abolição da escravidão no Brasil

Além de prêmios, a luta para produzir a comunicação popular de dentro da favela rendeu também repressão: em 2016, ele chegou a ser detido quando cobria a remoção da Favelinha Skol, no Complexo do Alemão, com o midiativista e fotógrafo Renato Moura. “Um dos policiais arrancou o celular da minha mão, e eu fui atrás. Nesse momento, ele me deu voz de prisão por estar desobedecendo ordem. Nisso, fui algemado e levado para a delegacia”, disse Rene Silva ao próprio Voz das Comunidades após ser liberado.

O contraponto que o jornal comunitário propõe não é esconder a violência, mas humanizar a abordagem, mostrando quando a padaria para de funcionar com um tiroteio, quando o mototáxi precisa interromper a locomoção dos moradores e quando as escolas são obrigadas a parar as aulas.

“A gente faz uma comunicação para que as pessoas daqui sejam comunicadas do que está acontecendo, para mantê-las seguras dentro das suas casas. As crianças que moram nas favelas e vão às escolas, muitas vezes, aprendem a se proteger de tiroteios, balas perdidas e operações policiais antes mesmo de aprender a ler e escrever. Nisso também está o quilombo moderno”, contextualiza.

“Nosso papel de comunicação, enquanto quilombos que são as favelas, é mostrar o quão potentes nós somos, quanta gente incrível existe aqui dentro, e isso não é falado nos espaços midiáticos convencionais”.  

O esforço de comunicadores negros como ele está virando o jogo e pautando a mídia hegemônica, avalia Rene Silva, que já foi roteirista e consultor em novelas e programas do Grupo Globo. “O que a gente via de estereótipo na mídia falando sobre a realidade das pessoas pretas no país mudou muito a partir de mídias comunitárias e independentes”, reflete.

Da Redação,
Por Gabi Lacerda (@GabiLacrda) 🐻

[1] Foto: Taciana Pereira/ Agência Brasil
[2] Verifique outros detalhes direto nas redes sociais. [3]
Por Kelly Oliveira – Repórter da Agência Brasil